O que realmente é a Igreja? Mais do que um edifício ou uma instituição, a Igreja nasce da mente e do coração de Jesus Cristo. Ela é o povo da nova aliança, chamado de todas as nações para uma missão sublime: salvar, santificar, curar, exorcizar e transformar o mundo, enquanto anuncia e prepara a plenitude futura do reino de Deus.
É uma iniciativa divina, sustentada pelo sopro do Espírito Santo, que a assiste até o fim dos tempos. Os problemas que ela enfrenta não residem em sua origem divina, mas na fraqueza humana de seus membros. Desde o início, Jesus nos alertou que nela haveria “trigo” e “joio”. Essa mistura de verdadeiros discípulos e falsos profetas estará presente na Igreja, cabendo ao Grande Juiz separar joio e trigo apenas no final da jornada.
Unidade e Verdade: Dois Pilares Indissociáveis
O coração do Senhor nos revela duas preocupações essenciais para a Igreja: a unidade e a verdade. “Que todos sejam um” (João 17:21) expressa o desejo de Cristo pela união entre os crentes. Contudo, a unidade que sacrifica a verdade é vazia; e a verdade sem unidade é incompleta.
A Igreja é portadora de doutrinas universais, reveladas por Deus e sistematizadas a partir das Escrituras, da tradição apostólica e do consenso dos fiéis. Ela confessa com o Credo Niceno: “Cremos na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica”. A verdadeira Igreja é aquela que guarda as verdades eternas e rejeita os “outros evangelhos” que surgem para confundir e dividir.
Os Fundamentos Apostólicos da Igreja
Cristo confiou aos apóstolos a tarefa de transmitir as verdades eternas. Como lembra Emil Brunner: “Sem os apóstolos, não haveria cristianismo… nem a Igreja.” A autoridade apostólica foi passada aos bispos, os sucessores dos apóstolos, que consolidaram os fundamentos da Igreja como instituição:
- O Cânon das Escrituras: A definição de quais livros compõem o Novo Testamento, estabelecendo a base da revelação escrita.
- A Doutrina Cristã: Sistematicamente exposta em credos como o Apostólico e o Niceno.
- O Governo Eclesiástico: Estruturado a partir do episcopado histórico, descrito e defendido por figuras como Inácio de Antioquia e Irineu de Lyon.
Esses pilares permanecem inalterados nas grandes tradições do cristianismo, seja no Oriente ou no Ocidente.
As Lições da História e o Chamado à Reforma
Ao longo dos séculos, a Igreja teve seus altos e baixos. De tempos em tempos, ela necessitou de reformas e avivamentos para corrigir seus desvios. A Reforma Protestante, iniciada no século 16, buscou resgatar os fundamentos apostólicos, sem desprezar os séculos que a precederam.
Hoje, no meio do caos denominacional que surgiu, especialmente nos últimos dois séculos, o chamado à unidade e à verdade continua. Devemos voltar aos ensinos da Reforma e, antes dela, às lições dos apóstolos e dos pais da Igreja. Sem esse retorno, corremos o risco de perder nossa identidade e nossa missão no mundo.
A Igreja Como Mistério e Sacramento
A Igreja é mais do que uma organização; ela é mistério e sacramento. Como noiva de Cristo, ela antecipa as bodas finais e reflete a glória do reino vindouro. Suas fraquezas humanas não obscurecem sua essência divina, pois ela é sustentada pelo Espírito Santo e guiada pela verdade das Escrituras.
Assim, é nosso papel, como parte da Igreja, lutar pela unidade que não compromete a verdade e pela verdade que promove a unidade. Devemos rejeitar os falsos evangelhos e abraçar a doutrina pura, transmitida pelos apóstolos e preservada na tradição cristã.
Que tu possas, ao refletir sobre a Igreja, renovar teu compromisso com ela e com sua missão. Afinal, a Igreja não é apenas um lugar ou uma instituição; ela é o corpo vivo de Cristo, chamado para transformar o mundo com a luz do Evangelho.
Dom Caldas
Bispo Diocesano
